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Terras raras

Em agosto de 2025, a China, que já domina esse mercado, deu mais um passo para consolidar sua supremacia. O governo anunciou que o rígido sistema de cotas de mineração, fundição e separação de terras-raras, que já regulava a produção interna, passará a incluir também o minério importado. Isso significa que todo o fluxo de matérias-primas, independentemente de onde tenham sido extraídas, só poderá ser processado e refinado dentro das cotas definidas por Pequim. A medida foi precedida de restrições de exportação e do aumento da vigilância sobre empresas do setor, transformando as terras-raras não apenas em insumos industriais, mas em ferramenta de pressão geopolítica. Para setores como automotivo, energia renovável e eletrônica, a notícia acendeu um alerta: depender de um único país para a oferta de insumos tão estratégicos é um risco que pode comprometer cadeias produtivas inteiras.
Nesse cenário, o Brasil surge como um contraponto potencial. O país possui grandes reservas de terras-raras em Minas Gerais, Goiás, Pará, Amazonas e Bahia, que o colocam entre os dez maiores detentores desses minerais no mundo. Diferente da China, no entanto, o Brasil ainda não transformou esse patrimônio geológico em soberania tecnológica. A exploração é incipiente, restrita a iniciativas pontuais, e o gargalo está principalmente no processamento. A separação e o refino das terras-raras exigem processos químicos complexos, caros e muitas vezes poluentes, envolvendo inclusive resíduos radioativos. Essa é justamente a etapa que a China domina e que dá ao país a capacidade de controlar a oferta global.
Do lado brasileiro, existem centros de pesquisa ativos, como o CDTN em Minas Gerais e universidades como a USP, que desenvolvem técnicas de separação e estudam alternativas de processamento mais limpas. Há também mão de obra qualificada em mineração e química. Mas falta escala industrial e, sobretudo, uma política nacional estruturada que articule Estado, empresas e academia para criar uma cadeia produtiva capaz de transformar reservas em produtos de alto valor agregado. Sem isso, o Brasil continua sendo um país com potencial reconhecido, mas sem presença efetiva nesse mercado estratégico.
A diferença entre a China e o Brasil é clara. Enquanto Pequim faz do setor de terras-raras uma política de Estado, integrando extração, refino e manufatura para consolidar sua posição global, o Brasil ainda trata o tema de forma dispersa. Se houver planejamento, investimento em pesquisa e desenvolvimento, parcerias internacionais e incentivos à indústria local, o país tem condições de ocupar um espaço relevante como fornecedor alternativo, ajudando a reduzir a dependência mundial da China. Mais do que uma oportunidade econômica, trata-se de uma questão de soberania tecnológica e energética, já que o futuro das energias limpas e da inovação passa, inevitavelmente, pelas terras-raras.
Fontes:
Reuters
Bloomberg
Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM)
Agência Nacional de Mineração (ANM)
Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN)
INCT-Materiais Avançados e Terras-Raras (INCT-MATERIA)
Agência Brasil